sábado, 21 de novembro de 2009




[ De que forma um sistema de parques pode transformar uma região frágil ambientalmente e socialmente?

Como recuperar a auto-estima de uma população historicamente marginalizada?

Esses foram os primeiros questionamentos feitos pela equipe, e a partir deles é que chegamos ao conceito criado por Kevin Lynch de Paisagens Participativas que guiaria todo o nosso processo de criação, tentando ao todo tempo aliar aspectos antrópicos e naturais em um desenvolvimento de longo prazo e sustentado.

Mais do que apenas lazer e espaços de convívio as pessoas que ali habitam necessitam de infra-estrutura básica, oferta de serviços, acesso a informação, ou seja, a base para que se sintam cidadãos de fato.

Com isso, a primeira idéia foi criar não só áreas de lazer e convívio, mas sim uma rede de equipamentos, na tentativa de inicialmente atender necessidades básicas da população, e de fazer que as pessoas que ali habitam se apropriassem dos parques não só como um mero local de descanso,mas que esse tivesse um papel importante e fundamental na sua formação.

Fazer com que os parques façam parte da vida delas, que sintam orgulho de si mesmas e do local onde vivem, e melhor do que isso, fazendo parte do processo de funcionamento dos parques. Acabar com o estigma, quebrar as fronteiras sociais por meio da paisagem, esse é o objetivo. ] http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst223/inst223_01.asp


Fotos: Desenvolvimento do projeto na foz do Córrego Manguinhos (trecho 03).

[ MÉTODO DE TRABALHO ] OSCAR NIEMEYER

“Não vou apresentar o método ideal de elaborar um projeto, pois outros processos mais práticos e eficientes podem existir. Vou apenas contar como trabalho, como elaboro meus projetos de arquitetura.

Primeiro tomo contato com o problema, o terreno, o programa, o ambiente onde a obra vai ser construída. Depois, deixo a cabeça trabalhar e durante alguns dias guardo comigo no inconsciente o problema em equação, nele me detendo nas horas de folga e até quando durmo ou me ocupo de outras coisas.

Um dia, esse período de espera termina. Surge uma idéia de repente e começo a trabalhar. Analiso a idéia surgida e começo a fazer meus desenhos. Às vezes é uma planta, um partido arquitetônico que prevalece, outras vezes é um croqui, uma simples perspectiva me agrada e procuro testar. Escolhida a solução, inicio o meu projeto, na escala 1:500. É a escala que prefiro, que me prende melhor à solução de conjunto indispensável. E começo a desenhar o projeto, vendo-o como se a obra já estivesse construída e eu a percorrendo curioso.

Com este processo, sinto detalhes que um desenho não permitiria, detendo-me nos menores problemas, sentindo os espaços projetados, os materiais que suas formas sugerem etc. Uma vez, elaborei um texto explicando as colunas do Palácio do Planalto, mostrando como as fixei como nesse passeio imaginário, entre elas circulei, apreciando suas formas, modificando-as, procurando criar novos pontos de vista, o espetáculo arquitetural.

Às vezes, o que não raro acontece, o programa proposto é desatualizado. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Universidade de Constantine, quando recusei a solução apresentada. E projetei dois grandes blocos de ensino: um, de classes, com salas de aula e auditórios; e outro, de ciência, com todos os laboratórios e setores de pesquisa, obtendo assim uma solução mais flexível, mais econômica, capaz de explicar a universidade integrada dos tempos atuais.

Terminada essa fase, convoco os técnicos especializados, com eles discutindo o sistema estrutural imaginado, o dimensionamento de apoios e vigas, os serviços técnicos de ar-condicionado que complementam a arquitetura.

O projeto está pronto. Termino texto explicativo que representa a prova dos nove dos meus projetos. Se faltam argumentos, alguma coisa deve ser acrescentada.

E faço a maquete que tudo confere.” NIEMEYER, Oscar. Conversa de Arquiteto. 1a ed. Rio de Janeiro-RJ. Editora Revan e UFRJ Editora, 1993. pp. 42-43.

Foto: Trecho 04 - Manguinhos (Vila, Praia da Chaleirinha e Praia da Baleia).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

[ retroinovação ]

Antítese da mata selvagem, a "selva de pedra" – construção humana, coletiva, artificial – revela em uma primeira vista a forte contradição entre a cidade e a natureza. De fato, a integração da natureza e da construção traz alguns problemas práticos, técnicos e estéticos. A vegetação protege. Mas também esconde, encobre, causa estragos. Não é à toa que, para um grande número de arquitetos, a natureza – e, na sua versão urbana, a vegetação – é impopular. Ela cria uma atmosfera suspeita, aumenta a sensação de risco, gera custos, coloca obstáculos às construções. A ponto de um vencedor do Pritzker, Paulo Mendes da Rocha, declarar que "a natureza é uma droga, não serve para nada, é um trambolho", em entrevista à revista Caros Amigos.

A análise de temas contemporâneos e urgentes, como a sustentabilidade e o aquecimento global, abre um novo olhar sobre a paisagem urbana. Uma mudança de paradigma revela que os benefícios reais da vegetação ultrapassam os supostos problemas levantados. Se houver bom planejamento e eficiente gestão dos investimentos, os custos de manutenção de árvores em áreas urbanas serão muito inferiores aos benefícios econômicos que geram para todos. Sem descartar os crescentes benefícios climáticos que podem trazer no futuro.

Simulação da relação volumétrica estimada entre os vários materiais convencionais utilizados na construção e a biomassa viva na cidade de São Paulo: cubos de materiais, com altura total aproximada de 844 m, com o mesmo comprimento da Avenida Paulista, versus um único cubo de biomassa viva, com 771 m de altura, com densidade foliar típica de uma árvore.

Problemas ambientais e climáticos da Metrópole

O cientista inglês James Lovelock recentemente lançou um alerta aos povos que vivem em áreas tropicais do planeta. "Pelas minhas estimativas, a situação se tornará insuportável antes mesmo da metade do século. Lá pelo ano 2040, a maioria das regiões tropicais, incluindo praticamente todo o território brasileiro, será demasiadamente quente e seca", disse ele à revista Veja, em 2006.

Torcendo para que Lovelock esteja enganado, os primeiros lugares a serem abandonados por conta das mudanças climáticas e da perda da qualidade de vida, serão as cidades. Núcleos da produção, berços da cultura urbana e das finanças. A sobreposição dos efeitos climáticos globais e locais transforma as cidades – sob o clima tropical – em verdadeiras "ilhas de calor". E traz consigo, em seu ritmo cada vez mais acelerado, problemas ainda muito mais graves, tais como desconforto, desigualdade socioambiental, aumento de estresse térmico, aumento de consumo e dos custos de energia para o resfriamento de imóveis e de automóveis. Enfim, prejuízos crescentes para a economia e para o desenvolvimento (sustentável) das cidades localizadas em regiões de clima predominantemente quente.

Embora as áreas urbanas no Brasil representem apenas 2% do território nacional, mais de 80% dos brasileiros moram nesses gigantes hot spots. Dentro do município de São Paulo, as medições de temperatura do ar já mostram diferenças de até 12ºC entre o centro urbano e seu entorno rural distante. Isso significa o dobro do previsto nas mais pessimistas estimativas sobre as mudanças climáticas globais. Segundo estudo da Sociedade Brasileira de Meteorologia, divulgado em abril de 2007, a temperatura da cidade de São Paulo subiu, em quase um século, o triplo do observado na média mundial. O trabalho foi realizado a partir da análise de médias históricas anuais.

Causa local: o uso do solo

A construção desordenada de metrópoles, com materiais e geometrias não-adaptados segundo aspectos climáticos, trouxe um desequilíbrio imprevisto ao bem-estar urbano. A impermeabilização do solo em conjunto com o desmatamento resultou em um baixíssimo percentual de cobertura vegetal. Como conseqüência, ocorreu o aquecimento local das superfícies urbanas. O asfalto em si não é algo tão ruim – desde que seja sombreado.

A cobertura vegetal é, do ponto de vista global e local, um regulador climático fundamental do planeta. O planejamento dessa cobertura – tanto pelo setor privado, no projeto arquitetônico e paisagístico de uma obra, quanto pelo setor público – é importantíssimo, dada a sua influência, positiva ou negativa, nas condições gerais.

Os solos abertos associados à vegetação regulam o balanço hídrico e energético resultando em superfícies mais frias. O conjunto favorece a absorção e a infiltração de água (o que evita enchentes), o sombreamento e a evaporação controlada. Em conseqüência, o conforto térmico e a eficiência energética fazem diminuir a necessidade de resfriamento artificial. Problemas – e soluções – urbanos que não se restringem aos limites da porta do edifício e ao ambiente externo.

Em escala regional, a capacidade da vegetação de transformar grandes partes da radiação solar em vapor d'água pode gerar maior fração de calor latente dispersível, em vez de calor sensível. A vegetação absorve, filtra, retém e armazena todos os impactos naturais e também aqueles gerados pelo homem e danosos para nós mesmos. Entre esses impactos podemos citar a fortíssima radiação solar, as tempestades, o barulho, o CO² e outras emissões – todos presentes em abundância nas grandes cidades tropicais. Sem esquecer todo o ar respirado, desde sempre, pela humanidade.

Ainda não existe nenhuma solução técnica e altamente capaz de substituir e garantir as mesmas funções da vegetação viva, com milhões de metros quadrados de área (ou seja, de massa) foliar. Mas existem tentativas de substituição parcial.

Um exemplo interessante é o projeto Three Air Trees (Três Árvores Aéreas), criado pelo escritório Ecossistema Urbano, que inventou réplicas de árvores – denominadas "próteses" – que evaporam a água e resfriam o meio ambiente urbano, tal como uma árvore verdadeira, sombreando o espaço público da cidade de Vallecas na Espanha.

Projeto Three Air Trees (Três Árvores Aéreas) que emprega água e vegetação na arquitetura do espaço público.

Outra referência importante é o conceito da Expo'92 em Sevilha, desenvolvido pelo escritório Site Arquitetos, que incorporou vegetação própria junto com pulverizadores de água para aumentar a taxa de evaporação e criar sombra capaz de gerar qualidade no espaço público.

O trinômio sOcioeconômico-ambiental urbano

As atuais transformações do tecido urbano de São Paulo trazem maciças contradições socioeconômico-ambientais. Há, por exemplo, uma alta densidade construída em contrapartida a uma diminuição crescente da população em regiões centrais, abandonadas por causa da perda de qualidade, embora, ao contrário da periferia, apresentem boa oferta de transporte público.

Se, por um lado, tem-se a degradação do ambiente público, por outro, se nota a sofisticação dos espaços restritos e privados (condomínios fechados e shopping centers), verdes ilhas com "clima de oásis", circundadas por mares aquecidos, espaços de passagem ressecados, empobrecidos, ameaçadores e cada vez mais próximos.

Outro ponto a ser ressaltado, a reforçar a degradação do espaço público, é a utilização privilegiada do transporte individual, conceito fundamental do Modernismo e restrito a cerca de 20% da população paulistana. Tudo leva a crer que a infra-estrutura sem o mínimo de planejamento não permite boa integração com o meio ambiente urbano.

No conceito tradicional de construção das cidades, a vegetação quase sempre foi percebida como desperdício de espaço, sem, portanto, nenhum valor econômico. Recentemente, essa noção começou a mudar. O verde está se tornando – talvez pela primeira vez na história da humanidade – elemento da moda e excelente argumento de venda, o que traz, não deixa se ser irônico, certos benefícios para a cidade inteira.

Integração da vegetação na arquitetura, como ação de interesse público e privado

Pequenos oásis de contemplação urbana, ligadas aos negócios, ao bem-estar e à qualidade climática em meio ao caos desordenado e asfaltado. É assim que deveríamos caminhar em direção a novos conceitos. Se abríssemos mão do isolamento em favor de uma planejada abertura para o bem público, a vida nas grandes cidades poderia se tornar um verdadeiro paraíso. A idéia não é totalmente nova e vários exemplos podem ser vistos em Cingapura, cidade tropical como muitas das metrópoles brasileiras.

Os edifícios e suas áreas livres, na era da sustentabilidade, não podem mais ser vistos simplesmente como objetos solitários, isolados e fechados. É importante enxergá-los integrados à cidade, à paisagem urbana (e ao meio ambiente urbano) e ao mundo. Interagindo com o planeta em relação recíproca, como partes de um mesmo organismo.

Para uma boa integração do privado e do público, a árvore deve ser vista não mais como objeto isolado, vazio e perdido no meio ambiente urbano, mas como elemento que pode melhorar e diminuir os impactos sócio-ambientais do edifício graças à sua sombra e ao seu entorno no mundo – e vice-versa. O desenho da fachada (envelope da edificação), como separação e interface entre o público e o privado, torna-se crucial para o desenvolvimento sustentável do espaço urbano.

Principalmente no exterior, a unissonância com a natureza e o lugar é considerada como uma das particularidades mais marcantes da arquitetura brasileira. No Brasil, existem de fato abordagens muito interessantes, mas poucas obras construídas nessa linha de pensamento, que busca a mais profunda integração da construção, da arte e da natureza, do público e do privado.

Niemeyer, mesmo aos 100 anos, ainda procura o natural nas formas arqueadas, femininas e montanhosas. Mas essa busca não se estende às matérias-primas que utiliza. Grande oportunidade para Burle Marx criar um estilo próprio de construção tropical, mundialmente reconhecido e fortemente interligado às obras de Niemeyer, no qual se vale de exuberante vegetação tropical.

Lina Bo Bardi também procurou a mais profunda integração da arquitetura com a natureza, à que chamou de "binômino", e percebeu a vegetação como uma das mais sutis substâncias na sua arquitetura. Lina Bo levou em conta as transformações naturais e suas inevitáveis conseqüências, seu próprio processo de envelhecimento corporal e estético. Vilanova Artigas desenvolveu em sua arquitetura aspectos associados à integração visual e climática com o meio circundante, criando prédios públicos sem portas, caso do próprio edifício da FAUUSP.

Hoje imperam na paisagem urbana paulistana as mais "novas" (embora vencidas) visões cristalizadas e importadas, principalmente dos Estados Unidos, sem nenhuma adaptação ao clima e à cultura brasileira. Em função da abundância de energia de baixo custo utilizada para resfriamento e de uma auto-imagem corporativa e globalizante, a arquitetura brasileira contemporânea tornou-se difusora do chamado conceito "Ice-T": o paradoxal princípio de aquecer um líquido para depois resfriá-lo. Revela-se, assim, no Brasil atual, o elo perdido entre o paisagismo público e a arquitetura privada, entre a natureza cuidada e o homem globalizado e urbanóide.

Recentemente, novos conceitos foram lançados por vários escritórios de arquitetura, entre esses Tryptique, Baptista, Haussmann & Spangenberg, e Kogan, os quais levam em consideração o "enverdecimento" dos edifícios como novo valor estético e benefício econômico. Esses projetos, ainda não construídos, alinham-se com clareza a conceitos desenvolvidos em todo o mundo: na Europa, por Piano, Foster, Rogers, Herzog & DeMeuron, Hundertwasser, Gaudí; na América do Norte, pelo site Arquitetos; pelos argentinos Ambasz e Wright, por Buckminster-Fuller; na Ásia por Yeang e na África por Michael Pearce.

Ainda há aqueles que acham que a arquitetura contemporânea (ainda moderna?) não deveria mudar à mercê da necessidade de causar menos impacto ambiental. E que fachadas e telhados verdes, placas fotovoltaicas e painéis para geração de água quente não poderiam ser considerados elementos do desenho arquitetônico. Estaremos com medo de mudanças?

Este texto tenta mostrar que é exatamente aqui, na mudança de paradigma do desenho, que se encontra uma oportunidade para a criação de uma nova arquitetura tropical que, sem ser nostálgica, leva em conta o que havia de verdadeiramente bom "nos bons e velhos tempos". Uma arquitetura que, talvez, poderá ser chamada de "retroinovação".

http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/167/artigo72655-1.asp

Jörg Spangenberg é arquiteto graduado na Alemanha com mestrado pela PUC-Rio. Fez estágio no escritório de Oscar Niemeyer, no Rio Janeiro, e está doutorando pela Bauhaus em convênio com a USP; subsidiado pela Holcim Foundation for Sustainable Construction. É consultor de projetos sustentáveis e tem trabalhos desenvolvidos no Brasil e no exterior.

[ Nova York ganha parque público sobre linha férrea ]

Projeto assinado pela Field Operations e pelo escritório Diller Scofidio + Renfro prevê a construção de um parque público com áreas verdes, deques e parque infantil sobre um antigo elevado férreo de 2,5 km

Soluções para estruturas urbanas indesejadas causam sempre polêmicas - em São Paulo, um bom exemplo foi o concurso para a revitalização do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, realizado em 2006.

O projeto vencedor, de Juliana Corradini e José Alves (Frentes Arquitetura), previa a construção de um parque elevado sobre as pistas, que seriam "encaixotadas" com uma estrutura metálica e receberiam tratamento acústico e ventilação especial.

Construído nos anos 90, o parque Promenade Plantée, em Paris, transformou um elevado ferroviário de cerca de 4,9 km em uma passarela para pedestres. Agora é a vez de Nova York: a construção de um parque elevado foi a proposta adotada no High Line, atualmente em construção no oeste de Manhattan, em Nova York - a primeira fase deve ser entregue no fim de 2008.

O projeto, assinado pela Field Operations e pelo escritório Diller Scofidio + Renfro, prevê a construção de um parque público com áreas verdes, deques e parque infantil sobre um antigo elevado férreo de 2,5 km que passa entre alguns prédios ao longo de 22 quarteirões. Construída entre 1929 e 1934, a ferrovia perdeu a utilidade com o desenvolvimento das estradas interestaduais que cortam os Estados Unidos, sendo desativada em 1980.


O elevado foi tomado pelo mato nos últimos anos - uma espécie de "prévia desorganizada" do visual que deve ocupá-lo em breve.A iniciativa de revitalizar o elevado ganhou força com a Associação Amigos da High Line (Friends of the High Line), uma organização não-governamental fundada em 1999.


O ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giulianni, chegou a autorizar a implosão da estrutura, mas com forte apoio da população a associação conseguiu reverter a situação. Após o concurso para escolha do projeto, em 2003, a prefeitura da cidade reservou 50 milhões de dólares para estabelecer o parque - hoje, o orçamento é de 170 milhões de dólares, montante obtido com os governos federal e municipal, além de doações privadas.



Para Juliana Corradini, uma das autoras do projeto para São Paulo, estruturas elevadas em desuso têm um potencial muito grande de transformação. "A idéia é transformar uma via em algo inédito para a cidade. É utilizar o potencial de transformação e pensar em outro aproveitamento para a estrutura", completa.Há também quem aposte no desmonte - ainda que seja uma solução mais cara e complexa.


O Escritório Experimental do Mackenzie, por exemplo, elaborou na época do concurso para o Minhocão uma proposta para o desmonte do viaduto (AU 156). "Propusemos o desmonte pelo fato de estar em uma área central histórica e porque ele degrada brutalmente seu entorno", afirma a professora Anne Marie Sumner, coordenadora do projeto.

Para Anne Marie, os parques elevados são uma solução paliativa, que não resolvem o problema urbano. "Não acredito em parque elevado, acho que as pessoas andam no chão.

A praça e o parque são um ponto de encontro dos cidadãos em todas as direções. Essa ligação multidirecional, de poder acessá-la por todos os lados, é que é a maravilha da praça pública", critica. "A idéia de um parque vertical é uma maquiagem, um paliativo - e paliativo é do que o Brasil não precisa", completa.


Por Andressa Fernandes, reportagem publicada na Revista AU, 18/Agosto/2008,

http://www.piniweb.com.br/construcao/urbanismo/nova-york-ganha-parque-publico-sobre-linha-ferrea-99254-1.asp


[ Bioengenharia de solos na proteção de cursos d'água ]

O solo é um dos recursos naturais de equilíbrio mais instável. Sua desestabilização tem início com a remoção da cobertura vegetal protetora (florestas, arbustos, forragens etc.), quando aparecem outras formas de uso e ocupação como a agricultura, pastagens e a ocupação urbana.

A perda da camada superficial do solo pela ação de fatores naturais, principalmente a água, contribui para o arraste de suas partículas constituintes, causando problemas como o assoreamento e alteração dos níveis de turbidez de cursos d'água.

As margens dos cursos d'água e encostas estão sempre sujeitas à ação do processo natural de erosão, no qual o solo erodido é transportado e depositado em outro local. Em certas condições, a velocidade da erosão em margens de cursos d'água pode aumentar, devido à remoção da vegetação, ao aumento da vazão dos rios e à ação de ondas provenientes de ventos e do movimento das embarcações.

A água é o principal agente dos processos de erosão e tem influência decisiva na estabilidade das encostas.

Em situação de processos erosivos intensificados, a água concentrada (por chuvas ou por ação humana) configura uma situação importante e preocupante, pois pode causar a desagregação e transporte do material erodido com grande facilidade devido à alta velocidade do fluxo d'água e à eventual baixa resistência do material das margens dos cursos d'água.

Embora sejam muito antigos, os problemas ambientais relacionados à erosão do solo estão entre os mais importantes a se enfrentar.

Em um contexto de valoração ambiental, tecnologias utilizadas no passado, e atualmente denominadas bioengenharia de solos, retornam como uma alternativa tecnológica em projetos de gestão dos recursos hídricos. A implantação de obras relativamente simples, que utilizem critérios ecológicos e de custo reduzido, surgem como solução para estabilizar, proteger, recuperar e recompor trechos ou mesmo a totalidade de alguns cursos d'água que têm suas margens comprometidas por processos erosivos.

A bioengenharia de solos é uma tecnologia que agrega princípios técnicos, ecológicos, estéticos e econômicos na estabilização de taludes fluviais, reduzindo a velocidade da água e o seu potencial de erosão e/ou aumentando as forças de resistência do material constituinte.

A difusão dessa tecnologia no Brasil e no mundo, junto ao meio técnico e aos órgãos públicos, e a promoção de sua utilização na estabilização e/ou proteção de margens de cursos d'água pode contribuir para tornar essa solução economicamente viável, comparada em relação aos métodos tradicionais da engenharia civil.

Essa alternativa tecnológica remonta aos antigos povos da Ásia e Europa. Na China, seu uso data de antes do século XII, quando os chineses utilizavam feixes de galhos (feixes de plantas vivas) para estabilizar margens de rios. No início do século XX, a China passou a utilizar técnicas similares para controle de erosão e enchentes ao longo do Rio Amarelo. Nos Estados Unidos, os primeiros registros datam de 1920, quando foi utilizada na estabilização de erosões em margens de cursos d'água e taludes (Durlo; Sutili, 2005).

Inserida no campo da ciência, a bioengenharia de solos compreende trabalhos que constituem a construção de estruturas físicas utilizando materiais inertes (pedras, madeiras, metais, geotêxteis), combinadas com material vegetal vivo (sementes, estacas, feixes de plantas vivas), fortalecendo encostas e margens de cursos d'água instáveis, porém, não substituindo a engenharia hidráulica ou a geotécnica tradicional, e sim complementando e melhorando os métodos de construções tradicionais (Araujo; Almeida; Guerra, 2007).

Bioengenharia no mundo e no Brasil

Amplamente difundidas no exterior e utilizadas há décadas na Europa Central, em países como Alemanha, Suíça, Norte da Itália e Áustria e, também, na América do Norte, as técnicas de bioengenharia de solos são reconhecidas como uma importante ferramenta na estabilização e/ou recomposição de encostas, áreas degradadas, margens de cursos d'água, córregos, barragens e problemas ambientais que afetam taludes de rodovias.

Foto 1 - Estabilização de margem: Live Cribwall (Soldotna, Alaska). Robbin B. Sotir & Associates, Inc.

O cribwal, estrutura de contenção que consiste em um arranjo estrutural de madeira ou pré-moldado de concreto, na forma de gaiola (berço), preenchido com solo compactado, pedras e mudas, faz parte dessas técnicas e foi empregado ao longo das margens do Rio Kenai, no Alaska (foto 1) para estabilizar o processo erosivo e restabelecer a vegetação. A técnica pode ser aplicada para diferentes abordagens e objetivos.

Foto 2 - Restauração do ambiente aquático e da qualidade da água. Portland, Oregon. Robbin B. Sotir & Associates, Inc.

Diferentes técnicas da bioengenharia de solos foram empregadas nas margens de um curso d'água em área urbana de Portland, Oregon (EUA), com o objetivo de restaurar o ambiente aquático e a qualidade da água afetados durante a construção de uma nova ponte (foto 2).

O projeto que consistiu do emprego de geogrelhas vegetadas, camadas de ramos de árvores e feixes de vegetação, experimentou várias enchentes com longos fluxos e, após a ocorrência desses eventos, a cada ano, continuou mostrando-se eficiente na função ambiental para a qual foi projetada.

Na Europa, em muitos casos, a bioengenharia de solos é praticada como alternativa às técnicas tradicionais de engenharia na solução de problemas ambientais, quando corretamente empregadas. Especialmente na Áustria, ela é empregada na renaturalização de cursos d'água que, no passado, foram quase totalmente retificados, calçados e/ou concretados por métodos tradicionais (Sutili, 2007). No Brasil, as técnicas de bioengenharia de solos ainda são incipientes, por escassez de pesquisas e na utilização, estando restritas a aplicações em reservatórios artificiais e taludes de rodovias.

Foto 3 - Gabião caixa. Córrego Bussocada, Osasco (SP)

Comumente, na estabilização ou proteção de margens de cursos d'água e córregos não canalizados que sofrem processos erosivos, são empregados projetos da engenharia tradicional como gabiões tipo caixa, que são estruturas constituídas de tela de arame revestido ou não, preenchidos com pedras (foto 3).

No entanto, já podem ser observadas iniciativas de construção de medidas estruturais adotando-se técnicas da bioengenharia de solos, em caráter experimental, como as realizadas por pesquisadores da Universidade de Santa Maria, na área de drenagem do Arroio Guarda Mor, no município de Faxinal do Soturno, no Rio Grande do Sul, onde ocorreram problemas de instabilidade resultantes da ação da água, provavelmente pela presença de touceiras de taquaras plantadas sobre o talude (Durlo; Sutili, 2005).

Em um trecho do Arroio Guarda Mor, com aproximadamente 4 m de altura e 40 m de extensão, os pesquisadores optaram pela construção de uma parede vegetada de madeira ou parede-Krainer (Krainerwand em alemão), utilizando material vegetativo como as mudas, estacas vivas e feixes vivos, e como material construtivo, troncos e pilotis de eucalipto, estacas roliças, arames e grampos de cerca, em uma sequência construtiva que permitiu o desenvolvimento adequado das espécies naquelas condições ambientais.

Foto 4 - Margem erodida. Sutili (2003)

Foto 5 - Margem recuperada. Sutili (2005)

Para a construção da parede-Krainer (fotos 4 e 5), realizou-se uma intervenção física no talude, com o objetivo de proporcionar condições mais estáveis para então receber a vegetação e um tratamento vegetativo. Essa intervenção consistiu na inserção de estacas vivas de forma ordenada sobre o talude, que, por propagação vegetativa, daria início à vegetação, que se desenvolveria apoiada na proteção física até a sua consolidação e que fosse suficiente para manter a estabilidade do talude.

O resultado obtido com a implantação da parede-Krainer (Durlo; Sutili, 2005) produziu os efeitos esperados na proteção e estabilização da nova margem do Arroio Guarda Mor, mostrando-se capaz de solucionar problemas com grau razoável de dificuldade, mantendo a estabilidade do talude em situação de eventos torrenciais.

Foto 6 - Margem recuperada. Neves (2007)

Conforme preconiza a bioengenharia de solos, nas margens do córrego Judas, que entrecorta o Parque Municipal Severo Gomes e deságua no rio Pinheiros, localizado na Granja Julieta, município de São Paulo, foi construída uma estrutura de madeira (parede de madeira roliça), utilizando material inerte, disponível no Parque, de antigas construções do playground e da ponte de madeira sobre o córrego Judas (foto 6).

Foto 7 - Margem erodida. Neves (2005)

A construção da parede teve como objetivo estabilizar o processo erosivo instalado nas margens do córrego (foto 7), decorrente do aumento da velocidade da água após intensas chuvas, elevando o nível da água até 3 m de altura.

Em conjunto com a construção da parede de madeira, a existência de uma espécie herbácea, o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), adaptada a ambientes sombreados e úmidos, pode exercer a função de proteção do talude evitando a erosão laminar.

Por que empregar a bioengenharia de solos?

Considerando-se que as atividades humanas voltadas ao desenvolvimento econômico são as maiores responsáveis pela degradação ambiental relacionada aos processos erosivos, tem-se a necessidade de buscar novas tecnologias para solucionar esses problemas, mesmo quando tais tecnologias, na realidade, possam ser novas adaptações de práticas já conhecidas.

A bioengenharia de solos vem ao encontro dessa necessidade e tem como finalidade recuperar o local atingido, imitando ou acelerando o que está ocorrendo naturalmente, atuando na estabilização de taludes fluviais, reduzindo a velocidade da água e, portanto, reduzindo o potencial de erosão e/ou aumentando as forças de resistência do talude (Araújo; Almeida; Guerra, 2007).

Tal tecnologia é considerada uma alternativa promissora para solucionar casos de degradação ambiental, especialmente aqueles decorrentes do processo erosivo natural dos cursos d'água, ou resultantes de ações antrópicas de ocupação, envolvendo tanto perdas econômicas quanto situações de risco. Esses casos podem ser mitigados ou solucionados, contribuindo na estabilização dos taludes marginais, na recuperação da mata ciliar e na estabilização de processos erosivos em margens de reservatórios voltados à geração de energia elétrica.

A bioengenharia de solos, por apresentar técnicas de melhor aplicabilidade econômica e ambiental, em especial no Brasil, fornece condições favoráveis como o desenvolvimento da vegetação, o baixo custo e consumo de materiais e mão de obra e, dependendo da obra a ser realizada, com dispensa do uso de maquinários pesados.

O emprego de técnicas da bioengenharia de solos pode ser um caminho na recuperação de cursos d'água com o uso dos recursos existentes na região, a ser adotado pelas administrações de municípios carentes que não dispõem de recursos financeiros para investir em obras da engenharia convencional.

Como tecnologia, pode ser uma solução igualmente eficaz comparada aos métodos convencionais da engenharia civil, muito embora não seja a única solução para todos os problemas relacionados à estabilização de solos, taludes, controle de erosão em margens de cursos d'água, reservatórios etc. As vantagens e limitações da biotecnologia devem ser avaliadas, considerando-se uma série de fatores processuais condicionantes, como clima, geologia, solo, hidrografia e vegetação local, e agentes como água, vento, temperatura e o próprio homem.

No entanto, o sucesso das obras de bioengenharia de solos na estabilização de encostas, tratamentos de boçorocas e controle da erosão de forma geral, principalmente as de origem fluvial, dependerá de um melhor conhecimento das técnicas de engenharia envolvidas, além das propriedades da vegetação.

Considerando-se as vantagens dessa tecnologia, é recomendável aprofundar os estudos quanto à avaliação do desempenho das diversas técnicas empregadas, características da bioengenharia de solos.


Matéria publicada na Revista Téchne,por Maria Lúcia Solera, bióloga CT-Floresta - Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

Leia Mais
Gestão Ambiental de Áreas Degradadas. G. H. Araujo; J. R. Almeida & A. J. T. Guerra. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil Ltda., 2a. ed., 2007.
Bioengenharia: Manejo Biotécnico de Cursos de Água.
M. A. Durlo; F. J. Sutili. Edições EST. Porto Alegre, 2005, 189p.: il.
An alternative for roadside management.
Soil Bioengineerng. A pratical guide. United States Departmente of Agriculture ForestService. L. Lewis, Califórnia, 2000.
Benefits of Soil Engineering. Robbin B.
Sotir & Associates, INC. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2008.
Bioengenharia de solos no âmbito fluvial do Sul do Brasil. F. J. Sutili, 2007. Tese (Doutorado). Departamento de Engenharia Civil e Perigos Naturais. Instituto de Bioengenharia de Solos e Planejamento da Paisagem, Universidade Rural de Viena, Áustria, 2007.

http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/149/artigo149943-1.asp


[ Passarela Verde ]

Arquiteto canadense propõe parque de 7 km acima de elevado em Toronto. Passarela verde foi apresentada como solução contra a demolição da Gardiner Expressway.


O arquiteto Les Klein, do escritório canadense Quadrangle Architects, apresentou projeto para a criação de um parque acima da Gardiner Expressway, uma das vias mais movimentadas de Toronto, no Canadá. A passarela verde, como o projeto ficou conhecido, teria 7 km de extensão e abrigaria árvores, pistas de ciclismo e estandes com lojas. A ideia foi mostrada durante o "Moses Znaimer's ideaCity", evento anual que reúne os principais artistas, arquitetos, médicos, cientistas e outros pensadores do País.


O projeto seria uma solução para o governo municipal, que sofre pressão para demolir trechos da Gardiner Expressway. Segundo especialistas locais, a grandiosidade da via, que é semelhante ao Elevado Costa e Silva, popularmente conhecido como "minhocão", em São Paulo, impede que a área próxima ao lago Ontário se torne um ponto turístico da cidade.

O parque, além de facilitar a visão do lago, também protegeria a Gardiner Expressway da chuva, da neve e, consequentemente, do sal, reduzindo assim o desgaste da pista e os custos de manutenção.

A passarela verde ainda contribuiria com a sustentabilidade por prever aquecedores solares e turbinas de vento que gerariam a iluminação em todo o parque e também na avenida. O projeto, que pode ou não ser adotado pelo governo, está estimado entre 500 e 600 milhões de dólares canadenses.

Por Ana Paula Rocha. 23/Junho/2009.

http://www.piniweb.com.br/construcao/urbanismo/arquiteto-canadense-propoe-parque-de-7-km-acima-de-elevado-142352-1.asp

Fotos:

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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

[ Segurança ] Luis Fernando Verissimo

"O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.
Mas os assaltos continuaram.

Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no final todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.
Mas os assaltos continuaram.

Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as jaenlas foram engradadas.

Mas os assaltos continuaram.

Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietários, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigorosos controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.
Mas os assaltos continuaram.
Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

E ninguém pode sair.

Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

Mas surgiu outro problema.

As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

A guarda tem sido obrigada a agir com energia."

E ainda há quem compre ilusão ...

[ Toda intervenção na cidade é necessariamente plural. É urbanística, arquitetônica, política, cultural e artística. A particularidade (...) consiste em reconhecer essa complexidade, em que as ações não são vistas isoladamente – segundos regras próprias, como num museu – mas no interior desse campo mais amplo que é a cidade.

Como intervir num universo desprovido de sistema centralizador e unificador? Trata-se de lidar com o indeterminado, o que escapa, o que não tem medida. Toda intervenção na cidade existente deve levar em conta esse imponderável. Não se detém por completo o controle das ações realizadas.

Toda intervenção é necessariamente pontual, sem pretender abranger o todo. Aqui predomina o principio da ação/reação. Cada gesto provoca contínuas rearticulações, dando novas funções e sentidos para locais e serviços.

A intervenção é uma inscrição num fluxo mais amplo e complexo que é a dinâmica urbana. Implica em entender a cidade como algo em movimento. Não na forma de vetor progressivo, orientado, mas em várias direções.

Intervir: um gesto sobre o que já está em movimento. Como surfar ou entrar numa freqüência. É um paradigma (...) em que sempre se entra em movimento. ] (PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções Urbanas: Arte/Cidade.São Paulo, Editora Senac, 2002)