“Não vou apresentar o método ideal de elaborar um projeto, pois outros processos mais práticos e eficientes podem existir. Vou apenas contar como trabalho, como elaboro meus projetos de arquitetura.
Primeiro tomo contato com o problema, o terreno, o programa, o ambiente onde a obra vai ser construída. Depois, deixo a cabeça trabalhar e durante alguns dias guardo comigo no inconsciente o problema em equação, nele me detendo nas horas de folga e até quando durmo ou me ocupo de outras coisas.
Um dia, esse período de espera termina. Surge uma idéia de repente e começo a trabalhar. Analiso a idéia surgida e começo a fazer meus desenhos. Às vezes é uma planta, um partido arquitetônico que prevalece, outras vezes é um croqui, uma simples perspectiva me agrada e procuro testar. Escolhida a solução, inicio o meu projeto, na escala 1:500. É a escala que prefiro, que me prende melhor à solução de conjunto indispensável. E começo a desenhar o projeto, vendo-o como se a obra já estivesse construída e eu a percorrendo curioso.
Com este processo, sinto detalhes que um desenho não permitiria, detendo-me nos menores problemas, sentindo os espaços projetados, os materiais que suas formas sugerem etc. Uma vez, elaborei um texto explicando as colunas do Palácio do Planalto, mostrando como as fixei como nesse passeio imaginário, entre elas circulei, apreciando suas formas, modificando-as, procurando criar novos pontos de vista, o espetáculo arquitetural.
Às vezes, o que não raro acontece, o programa proposto é desatualizado. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Universidade de Constantine, quando recusei a solução apresentada. E projetei dois grandes blocos de ensino: um, de classes, com salas de aula e auditórios; e outro, de ciência, com todos os laboratórios e setores de pesquisa, obtendo assim uma solução mais flexível, mais econômica, capaz de explicar a universidade integrada dos tempos atuais.
Terminada essa fase, convoco os técnicos especializados, com eles discutindo o sistema estrutural imaginado, o dimensionamento de apoios e vigas, os serviços técnicos de ar-condicionado que complementam a arquitetura.
O projeto está pronto. Termino texto explicativo que representa a prova dos nove dos meus projetos. Se faltam argumentos, alguma coisa deve ser acrescentada.
E faço a maquete que tudo confere.” NIEMEYER, Oscar. Conversa de Arquiteto. 1a ed. Rio de Janeiro-RJ. Editora Revan e UFRJ Editora, 1993. pp. 42-43.
Foto: Trecho 04 - Manguinhos (Vila, Praia da Chaleirinha e Praia da Baleia).
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